Textos de Filosofia com Exercícios e respostas

Enviado por Maria Lúcia de Arruda Aranha

Extraído do Suplemento para o professor de Filosofando: introdução à Filosofia

Atividade inicial de Filosofia 2014

Texto I - Retrato falado do Brasil

      Comecei a aula com uma pergunta: "O que diferencia a questão social no Brasil e nos EUA?". Silêncio geral. Imaginei que os alunos não tivessem lido o capítulo. Afirmaram que sim. Foi só então que eu, imaturo, sem o olhar treinado para capturar atitudes e comportamentos em pequenos gestos, percebi o constrangimento da turma. O sinal, característico, que retive como lição das formas sutis do preconceito era o olhar coletivo de soslaio para o único negro na sala. Dirigi-me a ele e denunciei: "Seus colegas estão constrangidos em falar de racismo na sua frente".

      Esta cena se repete toda vez que falo em público sobre a desigualdade racial no Brasil e há aquela pessoa negra, solitária, na platéia. Recentemente, numa palestra para gerentes de um banco, havia uma jovem gerente negra. Uma das raras mulheres e a única pessoa negra. Enfrentou duas correntes discriminatórias para estar ali: ser negra e ser mulher. Os colegas se sentiam desconfortáveis porque eu falava do "problema dela".

      "Ela" não tinha problema, claro. Era uma pessoa natural, do gênero feminino e negra. Nascemos assim. O problema é os outros não quererem ver a discriminação. Essa inversão típica é que caracteriza a questão racial no Brasil. É como se os negros tivessem um problema de cor, e não a sociedade o problema do preconceito.

(ABRANCHES, Sérgio. Retrato falado do Brasil. Veja, São Paulo, ano 36, n. 46, p. 27, nov. 2003.Adaptação.). Fonte: SARESP/2004.

1) A sociedade não quer enxergar a discriminação racial por achar que:

A) esse problema pertence ao negro.

B) essa questão é idêntica nos EUA e no Brasil.

C) muitos gerentes de banco são homens negros.

D) a mulher negra tem oportunidades na carreira.

2) Em “Ela não tinha problema, claro". o termo destacado foi empregado para demonstrar o preconceito:

03) Observe a citação retirada do texto acima: “O problema é os outros não quererem ver a discriminação. Essa inversão típica é que caracteriza a questão racial no Brasil. É como se os negros tivessem um problema de cor, e não a sociedade o problema do preconceito”. Agora responda:

Qual a crítica apresentada pelo autor?

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Texto II - A linguagem politicamente correta

       A expressão “politicamente correto” (ou incorreto) aplica-se não apenas à linguagem, embora esta seja a candidata mais constante àquela qualificação, mas a variados campos. Por exemplo, num recente dia dos namorados, um jornal afirma que “casais entram na era do politicamente correto, são fiéis, trocam anéis e fazem sexo responsável”. Uma revista de variedades informou há pouco tempo, que as redes inglesas de TV BBC e Channel 4 tiraram do ar algumas mímicas (p. ex. o dedo em forma de gancho para significar “judeu”, puxar os cantos dos olhos para representar um chinês), que eram utilizadas em programas para surdos-mudos, por julgá-las politicamente incorretas.

      O movimento em defesa de um comportamento, inclusive lingüístico, que seja politicamente correto inclui em especial o combate ao racismo e ao machismo, à pretensa superioridade do homem branco ocidental e a sua cultura pretensamente racional. Estas são, digamos, as grandes questões. Mas o movimento vai além, tentando tornar não marcado o vocabulário (e o comportamento) relativo a qualquer grupo discriminado, dos velhos aos canhotos, dos carecas aos baixinhos, dos fanhos aos gagos, passando por diversos tipos de “doenças” (lepra, Aids etc.). As formas lingüísticas estão entre os elementos de combate que mais se destacam, na medida que o movimento acredita (com muita justiça, em princípio) que reproduzem uma ideologia que segrega em termos de classe, sexo, raça e outras características físicas e sociais que são objeto de discriminação, o que equivale a afirmar que há formas lingüísticas que veiculam sentidos que evidentemente discriminam (preto, gata, bicha), ao lado de outros que talvez discriminem, mas menos claramente (mulato, denegrir, judiar etc.).

      Para alguns, este movimento é basicamente um efeito do relativismo e da crise da racionalidade, em especial quando ele ataca valores ligados à cultura clássica. Para outros, é um dos resultados da organização das minorias. É um movimento confuso, com altos e baixos, e comporta algumas teses relevantes, outras extremamente discutíveis e outras francamente risíveis.

      O exemplo seguinte é interessante para discutir os limites do movimento. Veja-se a carta abaixo, publicada na revista ISTOÉ 1208, de 25.11.92, e a resposta da revista:

Sou assíduo leitor desta revista, sempre a tive como grande veículo de comunicação sério e de grande responsabilidade. Porém, na edição 1206, assunto religião, onde vocês comentam a grande importância de Galileu Galilei na história, há um trecho onde lê-se “um dos períodos mais negro (sic) da história”. Devido a essa frase, venho expor meu repúdio e questionamento. No momento em que isso é referido, não há afirmação de que negro é sinônimo de desgraça histórica? (Robson Carlos Almeida, Salvador-BA)

ISTOÉ explica: No sentido em que a palavra negro foi usada, ela é tão ofensiva quanto dizer que houve um golpe branco em um determinado país, por exemplo.

(Adaptado de POSSENTI, Sírio. Os limites do discurso. Curitiba: Criar, 2002, p. 37-48.). Fonte: Processo seletivo da UFPR/02/07/2006.

04) Qual a ideia principal do texto acima ?

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05) Para Sírio Possenti (o autor), o movimento em defesa de um comportamento, inclusive lingüístico, que seja politicamente correto é:

A) basicamente um efeito do relativismo.

C) extremamente discutível.

D) resultado da organização das minorias.

06) Em outra passagem do mesmo texto, Sírio Possenti reproduz alguns comentários veiculados na imprensa em 1994, a propósito de uma afirmação do então candidato à presidência da República Fernando Henrique Cardoso, que se declarou “mulato”:

“Só se ele é filho de mula. Mulatinho é cruzamento com mula, não com negro.” (militante negro)

“... atribuir a todo uso da palavra ‘mulato’ um sentido ofensivo ou discriminatório, como tantos estão fazendo, é negar a natureza dinâmica da linguagem, com sua permanente modificação de formas e sentidos. Mesmo que a procedência etimológica de ‘mulato’ tenha a incomprovada relação com ‘mula’, seu sentido não guarda sequer vestígio desta suposta origem”. (Jânio de Freitas)

Com base nas citações acima, faça um comentário crítico relacionando tanto a citação do militante negro e do Jânio de Freitas.

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Texto III – A sociedade vista do abismo

         Uma indicação de consciência estamental (…) está nos crimes de adolescentes. (…) A gangue de adolescentes que numa madrugada de abril de 1997 queimou vivo o índio pataxó Hã-hã-hãe que dormia num banco de um ponto de ônibus, em Brasília, agiu orientado por motivações estamentais. Isso ficou claro quando alegaram ter cometido o crime (bestial, aliás) porque pensaram que se tratava de um mendigo. Isto é, para eles há duas humanidades qualitativamente distintas, uma mais humana (a deles) e outra menos humana (a do mendigo).

      Eles invocam, portanto, distinções baseadas na ideia de que as diferenças sociais não são apenas diferenças de riqueza, mas diferenças de qualidade social das pessoas, como é próprio de uma sociedade “estratificada”.

MARTINS, José de Souza. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. Petrópolis: Vozes, 2002. P. 132 (adaptado)

07) a) Que tipo de reflexão (Filosófica) o texto acima nos proporciona?

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b) No texto III, porque o autor relaciona a questão da violência (dos adolescentes) com a questão social? Explique:

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A atividade abaixo pode ser dirigida à todas as séries de Filosofia do ensino médio. Professora Cida.